sexta-feira, 6 de maio de 2016

O Renovar de Gerações

Maria Rodrigues - Nascida a 1941 (Avó)

Ser mãe de uma menina é complicado. As meninas são piores que os rapazes. São as que se precipitam mais, aquela coisa das hormonas está mais presente. Os rapazes são mais independentes e não são tão problemáticos como as meninas. Além disso, não aparecem grávidos em casa. Mas não houve grande problema para mim. Sabes que me senti uma avó babada quando a Adriana nasceu. Quero escrever-te esta carta antes que me leves para um lar e fique longe desta casa. Sei que estou doente e que não irei viver por muito mais tempo. Mas não me sinto sozinha. Estou perto das minhas duas meninas: filha e neta. Posso não te ter dado tudo o que ambicionavas, mas os tempos eram outros quando nasceste. Sempre te tentei dar um excelente ambiente familiar para que crescesses de forma saudável. E espero ter feito exactamente isso. Fico feliz por saber que estive viva para ver tu dares à minha neta, tua filha, os valores que eu própria tos tinha passado quando eras pequena. Tenho a certeza que só vais encontrar esta carta quando eu morrer... por isso... até breve, minha querida! E continua a fazer um excelente trabalho enquanto mãe. Sinto-me orgulhosa de ti!

Cláudia Rodrigues – Nascida a 1964 (Mãe)

Foi difícil ver a minha mãe partir, mas sei que ela agora está em paz e feliz por tudo aquilo que eu alcancei. Agradeço por não me ter dado tudo quando era criança pois isso fez-me entender que precisava de batalhar e trabalhar para conseguir concretizar os meus objetivos. Ela proporcionou-me realmente um excelente ambiente familiar e deu-me todos os valores importantes para a nossa sociedade: Humildade, carácter, responsabilidade... valores que eu própria dei à minha filha. Agradeço também pela preocupação que a minha mãe tinha com o meu futuro.
Queria que ela continuasse por cá quando eu começasse a barreira dos cinquenta anos. A crise dos cinquenta, como dizem, é realmente verdadeira. Existem muitas coisas que o corpo já não responde com a mesma energia. E o facto de já não se puder ser mãe dói imenso. O avançar da idade assusta. Não consigo entender como é que a minha mãe, com uma idade já avançada, não tinha paciência para usar cremes. Eu discutia com ela para que cuidasse mais de si, mas de nada valia. Ela não tinha paciência. Contudo, quando chegou aos sessenta anos, o espelho não o refletia. Na verdade, o espelho dela nunca lhe revelava a sua verdadeira idade. Invejava-a por isso? Talvez, mas também sentia imenso orgulho. 
Ver os filhos a saírem dos nossos braços foi também um golpe cruel que a vida me deu. Nunca estamos preparados para ver os filhos partirem e irem às suas vidas. A minha filha partiu dos meus braços muito cedo, mas isso não me fez gostar menos dela. A Adriana dá-me muito orgulho. E se ela é a filha que é, foi porque tive uma mãe incrível que me deu a melhor educação. Tenho saudades dela, mas sei que consegui ter o seu orgulho... e isso é o mais importante!

Adriana Rodrigues – Nascida a 1980 (Filha)

Sei que a minha mãe sente orgulho em mim. Sou muito lutadora. Morar fora, longe da família e da minha casa, longe do meu abrigo, e por vezes sentir-me sozinha, sem a base familiar, sem a compreensão e com medo que a aventura não passe apenas disso: uma aventura. É realmente uma enorme pressão, mas sempre tentei estar no meu melhor. Tenho saudades da família, mas existem sempre as redes sociais, algo que não existia na época da minha avó, ou mesmo da minha mãe. Cada ano que passa fica mais difícil amenizar este sentimento, as saudades são grandes, as saudades doem, mas temos que conviver com isso, aprender a viver com isso. Queria que a minha avó dissesse que tinha orgulho em mim. Queria sentir o abraço dela, a voz dela, mas sei que ela está a olhar por mim. 
A minha fase de adolescente foi terrível para a minha mãe. Tinha um feitio difícil, complicado de entender. Sinto que quanto mais as gerações se renovem, mais a fase da adolescência é considerada a pior. Lembro-me de ter feito coisas que hoje não entendi por que razão as fiz. Mas, assim como o tempo, a fase passou e sai dos braços da minha mãe para viver uma aventura longe do país. Tenho trabalho e sou bem sucedida. Tudo o que eu ansiava. 
Tenho uma filha de oito anos. Ainda é muito nova, mas já consigo entender hoje tudo o que a minha mãe e a minha avó passaram. Antes de se passar pela maternidade, as pessoas não sabem ou não entendem claramente o que as nossas mães fizeram para nos criar, as dificuldades que passaram, as horas mal dormidas. 
Ser mãe é preocupar-se. 
Ser mãe é cuidar. 
Ser mãe é amar.

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